Caro leitor,
se existe algo difícil de se definir nessa vida, com certeza são as coisas aparentemente mais simples e que, observadas à primeira vista, parecem ser as mais óbvias. Não é a toa que uma das coisas mais difíceis é falar de si mesmo perante uma indagação. Parece que quanto mais julgamos que sabemos de algo, aquilo se torna mais difícil ainda de ser definido.
Da mesma forma acontece com conceitos que acreditamos que temos prontos em nossas mentes, mas que, no fundo, precisam de uma revisão de tempos em tempos para que este amadureça e se defina cada vez mais próximo daquilo que seria o conceito mais palpável. Com o conceito de "texto" também não é diferente. Por isso precisaremos de uma breve recapitulação e entendimento histórico para ajudar nessa definição.
Antes de começar, precisamos entender que, ao se falar em texto, devemos saber que existirá sempre uma relação entre:
autor/emissor - texto - leitor/receptor.
Bem, a história do estudo do texto começa na Europa em 1960, conhecida como primeira fase ou fase Transfrástica (porque ela vai além da frase) e surgiu de uma necessidade de um estudo mais aprofundado do que seria texto e discurso. Nela era analisado as relações entre frase e texto através dos elementos de coesão textual (cognitivos, por exemplo) e não mais como Saussure, que priorizava os signos textuais.
Já a segunda fase, era baseada no Gerativismo de Chomsky e entendia um texto como uma unidade e foram construídas gramáticas textuais onde tentavam abranger todos os processos de um texto na concepção do falante e que seria uma espécie de regra global que valeria para textos de falantes do mundo todo. Basicamente era considerado apenas o processo de criação do texto.
Segundo Koch (1997) “os textos passam a ser o resultado da atividade verbal de indivíduos socialmente atuantes, na qual estes coordenam suas ações no intuito de alcançar um fim social”.
Mas Koch (1995) diz que "o conceito de texto varia conforme o autor e a orientação teórica adotada" e também narra que a concepção do conceito do é texto foi modificada durante anos de estudo e é algo em constante construção.
Já na 3ª e atual fase, são consideradas as teorias do texto, que o tratam como um produto inacabado e em constante processo. O texto passou a ser analisado no seu contexto e não mais alheio a ele. Nisso, é entendido que a construção de significado do texto é feita tanto pelo autor, quanto pelo seu receptor, sendo diferente a interpretação dada ao texto dependendo dos diferentes contextos. O texto em si, isolado, é compreendido não por um sentido próprio, mas pelas interpretações dadas pelos agentes envolvidos.
Em resumo, texto foi algo constantemente estudado por linguistas do mundo todo e sua definição foi constantemente discutida e construída durante todo esse período.
Segundo Beaugrande (1997) “É essencial tomar o texto como um evento comunicativo no qual convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais”. Pode-se perceber que existe uma interação entre os agentes de um texto, trazendo à tona várias categorias de contextos e conhecimentos que irão construir o texto, podendo até mesmo torna-lo sem sentido para alguns desses receptores devido a essa necessidade de conhecimentos extras e não explicitamente presentes nele.
Agora você, leitor, deve estar se perguntando..., então, como saber o que é um texto afinal?
Assim como todo e qualquer processo de identificação, os textos possuem características próprias que nos levam a perceber se aquilo se trata ou não de um texto. Porém, essas características, costumam ser definidas por cada área da Linguística que faz de acordo com seus interesses científicos. Como, por exemplo os textos verbais e os não verbais, os literários e não literários e os gêneros literários.
"[...]a origem etimológica de texto: o termo do latim textus, de textum (tecido, entrelaçamento). O texto, portanto, seria o entrelaçamento de signos linguísticos, que, juntos, produzem sentido." (Marinho, 2020)
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| Questão 127 do Enem 2011 (Foto: Reprodução/Enem) |
A imagem ao lado é um exemplo de texto em que o sentido pretendido, pode não ser aquele que é dado pelo receptor. Você consegue perceber a mensagem por trás dessa imagem?
O texto é uma propaganda de um adoçante que traz uma frase: “Mude sua embalagem”.
Note que, para tentar entende-la, é feita uma busca por elementos textuais e visuais e de conhecimentos ausentes na imagem e que necessitarão de uma visão de mundo mais ampla e crítica, que pode passar despercebida por um leitor amador.
No final das contas, enquanto para alguns pode parecer preconceituosa e desnecessária a propaganda, para o autor, significou uma sugestão para mudar para aquilo que ele considera mais saudável.
Fávero (2005, p. 6) também relaciona o texto ao contexto e aos princípios de textualidade: contextualização, coesão, coerência, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade, e intertextualidade. Daí mais uma vez vemos o texto sendo correlacionado com a construção desse sentido tanto do lado do emissor, quanto do receptor. Portanto, hoje sabemos que texto tem um sentindo mais amplo do que antes (como mencionado acima) e pode ser quase tudo que se vê e que transmite uma comunicação, um sentido para quem o produz ou para quem o recebe, podendo ser na linguagem verbal ou não verbal.
Na linguagem verbal está englobado tudo aquilo que é escrito ou falado; enquanto na não verbal é caraterizada pelo uso dos signos visuais (gestos, postura, desenhos, ilustrações, placas, músicas, emotes, símbolos, etc).
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| Linguagens verbais e não verbais. Fonte: Google Imagens |
Diante dos mais variados conceitos que parecem se complementar em alguns pontos e divergir um pouco em outros, para mim, texto é:
Toda produção linguística coesa e coerente e que traz um significado para alguém ou para algum grupo social.
Mas esse é o meu conceito de texto. Qual o seu?
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REFERÊNCIAS:
BEAUGRANDE, 1997, p. 10 apud MARCUSCHI, L. A. Produção Textual Análise de Gêneros e Compreensão, 2008, p. 80.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2005.
KOCH, I. V. O texto: Construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1995.
KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.
MARINHO, Fernando. O que é um texto?; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues/o-que-e-um-texto.htm. Acesso em 30 de abril de 2021.
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